Ensaio: “CONSCIENTE COLETIVO”

Ensaio:   “CONSCIENTE COLETIVO”

 

Desde o principio do curso de graduação de Psicologia, venho/viemos dedicando grande parte dos estudos sobre a teoria psicanalítica de Freud. Uma teoria volumosa, que requer muito mais tempo para ser vista/lida com todo respeito e seriedade que merece.

Entretanto, foi lendo também, Jung, que me ocorreu o conceito de “consciente coletivo”, uma vez que de Freud obtivemos o conceito de Inconsciente, mas, em Jung encontramos o conceito de Inconsciente Coletivo.

Em ambos os autores, essas instancias são caracterizadas como mentais, porém, nos dois também é possível encontrar uma confusão entre elementos da mente e elementos dos instintos, instancias inconfundíveis para mim, e essa distinção é essencial e revolucionária para a Psicologia, esta que pouco trata dos instintos humanos-animais e raramente se debruça sobre a condição emocional.

Acredito que foi com Charcot e sua técnica de hipnose para tratar das histéricas, que Freud – enquanto médico - tenha percebido que ha doenças orgânicas que tem sua causa para além do corpo, ou melhor, hipnotizando as pessoas Charcot conseguia induzir as pessoas a fazer o que não conseguiam fazer quando conscientes, por exemplo: uma mulher que não caminhava, não mexia um braço, ou não conversava... quando hipnotizada, conseguia fazê-lo normalmente. Logo, a causa não era física, mas mental e era a mente que precisaria/precisava de atenção e de cuidados. A partir disso, não tardou para que Freud atribuísse/localizasse essas causas numa instancia mental mais profunda e desconhecida, ou seja, o Inconsciente. Este, exclusivamente mental. Nada de instintivo e muito menos de emocional. Enfim, Freud passou a vida de estudos e pesquisas em torno do “aparelho mental” e mesmo que ele tenha colocado o racionalismo cartesiano em crise, ao apresentar o Inconsciente, ainda assim, prosseguiu com a visão unilateral – mental – do ser humano.

Carl Gustav Jung parece que se incomodou com isso, e buscou fundamentar um Inconsciente menos mental (?), trazendo para discussão o conceito de Inconsciente Coletivo, ou seja, uma instancia (ainda mental?) que ultrapassaria a mente individual. Assim como Freud, ele também não conseguiu evitar a instancia dos instintos e acabou enfiando-os no Inconsciente Coletivo, ou seja, enfiando-os no aparelho mental. O que para mim é “desumano”, isso mesmo, desumaniza as pessoas na medida em que situa tudo no mental, ou ainda, desumaniza os sujeitos ao ignorar o seu lado animal/instintivo, assim como desumaniza o humano ao desconsiderar a condição emocional que, também, o constitui.

Enfim, retomando a temática anunciada, ou melhor, a do “consciente coletivo”, ouso propor que tudo aquilo que implica em memórias (conscientes, reprimidas e/ou recalcadas; inclusive os arquétipo junguianos) e em ideias (próprias ou coletivas/culturais/que a humanidade pensa), seja considerado como pertencente ao aparelho mental, ou seja, ao consciente individual-coletivo; já os instintos animais, que também carregamos e nos condicionam fortemente, seja considerado como pertencente a natureza que “herdamos” através de um corpo físico. Natureza que se garante enquanto natureza; já a nossa condição emocional (afetos, sentimentos e emoções) dizem mais respeito ao que fica, subjetivamente, entre o mental e o instintivo, ou ainda, ao que resulta desse intermitente movimento entre.

 

Aliás, será que reconhecer nossa condição instintiva não seria melhor – mais simples - do que elucubrar um Complexo de Édipo, um tanto quanto fantasioso? Não sei se os freudianos sabem, mas os animais não fazem distinção entre mãe, pai e filhos, tudo gira em torno da autopreservação natural (o que implica na reprodução da espécie, não importando se é com a mãe, o pai, filho/a ou uma irmã/irmão). E mais, mesmo assim, a própria natureza inibe a reprodução “em família”, pois “cruzamentos internos” assim, acaba gerando, naturalmente, filhotes frágeis e/ou problemáticos.

Isso posto, não teríamos um aparelho mental dividido entre Inconsciente, Pré-consciente e Consciente, nem mesmo entre Inconsciente Individual, um Inconsciente Coletivo e a Consciência, mas, teríamos um humano que é – e precisa ser – ENTRE: instintos, ideias e emoções, ou melhor, entre o natural (que sempre se repete), o mental (que só representa e associa memórias) e o emocional (que pode – deveria – sentir/vivenciar o que é real).

Enfim, ser humano é ser entre instintos, ideias e emoções, logo, a Psicologia teria uma psique bem mais complexa do que apenas a do aparelho mental.

 

T.I. Webler Jung

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