crônica - O TRIPÉ DA PSICANÁLISE X A PRÁTICA EM PSICOTERAPIA
O TRIPÉ DA PSICANÁLISE X A PRÁTICA EM PSICOTERAPIA
Envolto no Estágio em Clínica, do curso de Psicologia (que não é estágio em Psicanálise; na verdade nem sei se tem estágio em Psicanálise, pois o caminho formativo é outro), também ando envolvido em diversas reflexões e questionamentos a respeito da minha prática profissional futura. Convém informar ainda, que também ando envolto com inúmeras dúvidas, uma vez que a Psicologia prepara para a Psicoterapia, entretanto, a linha teórica do curso que frequento é Psicanálise, esta que, por sua vez, requer/recomenda outro caminho formativo (uma pós-graduação específica?), ou melhor, requer uma base teórica, análise pessoal e a supervisão dos atendimentos.
Mas, ignorando esse “emaranhamento” entre Psicologia e Psicanálise, já “clivado” na formação acadêmica brasileira, gostaria de entabular uma reflexão construtiva a respeito da futura profissão.
Então, retomando a recomendação do pai da Psicanálise, temos um tripé, necessário para que alguém possa exercer a profissão de psicanalista: a teoria - para aprender o conteúdo técnico e os conceitos essenciais/fundamentais (conhecimento); a análise pessoal - o psicanalista precisa seguir sendo analisado por outro profissional, durante o tempo em que quiser atuar como psicanalista (autoconhecimento); e a supervisão - seguir as orientações e os estudos de casos com o auxílio de um psicanalista mais experiente (acompanhamento dos atendimentos/da prática).
Ao lado disso, de mãos dadas muitas vezes, caminha a formação/graduação em Psicologia, que por sua vez, prepara futuros profissionais para atuarem como psicoterapeutas (e não como psicanalistas). Certo que a formação teórica da graduação em Psicologia é bem maior que uma pós-graduação em Psicanálise. Graduação que também exige estágios práticos, no intuito de solidificar aquela teoria acadêmica toda. Entretanto, a graduação em Psicologia não requer a “análise pessoal”, ou melhor, que o acadêmico esteja em atendimento psicoterápico pessoal (aliás, suspeito que muitos se formem em Psicologia sem nunca ter pisado num consultório psicológico), nem exige que o futuro profissional da Psicologia faça a supervisão de seus atendimentos.
Que nó.
Acho que a “família Borromeo” - e Lacan - ficaria com inveja deste nó formativo que atamos.
Entretanto, apesar de tudo, me parece que há um “enlace” possível e até mesmo, necessário para ser um responsável profissional da Psicologia: a supervisão complementaria uma base teórica viciada por veias teóricas, ou melhor, alguém da educação, como eu, pode ser condicionado por interpretações muito pedagógicas e pouco psicológicas. A supervisão também pode complementar a falta de base teórica, uma vez que durante a graduação em Psicologia, muitos alunos nunca compraram um livro da área e/ou nunca pisaram na biblioteca para pesquisar e/ou são alérgicos à leitura de livros a fim de aprofundar algum estudo psicológico; a análise pessoal pode complementar a falta de prática na área da Psicologia, ou, até mesmo, complementar a pouca experiência de vida de muitos acadêmicos, que acabaram de sair do Ensino Médio e já adentraram numa área tão complexa quanto a Psicologia (será que não é mais complexa até mesmo que a área da Medicina?). Além é claro, da análise/psicoterapia pessoal ser um momento e movimento fundamental para a própria estruturação psíquica, indispensável para um atendimento profissional responsável e ético, afinal, o paciente/cliente não precisa de um companheiro; por fim, o aprofundamento teórico - a teoria - precisa prosseguir ao longo da futura prática profissional, sobretudo para seguir-se com uma prática bem embasada teoricamente, afinal, a prática se alimenta da teoria, assim como a teoria pode ser alimentada pela prática clínica.
Enfim, lutemos, "desatemos" e brilhemos profissionalmente, para que a Psicologia (comportamental, cognitiva, psicanalítica/do inconsciente…) siga progredindo como uma Ciência - única - do psiquismo humano, este que sempre é organização/estruturação subjetiva, mesmo que em contínua interação com outros.
Tercio Inacio W J
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