crônica - Complexo de Édipo x Complexo de Eléctra
Complexo de Édipo x Complexo de Eléctra
Freud foi um gênio/um iluminado ao desvelar o Inconsciente que habita em cada um de nós, ao investir no entendimento dos sonhos e ao erigir a técnica psicanalítica (da escuta qualificada), entretanto, é difícil de aceitar a excessiva “sexualização” da criança, afinal, até uns 3 anos de idade – ou mais – a criança nem sabe o que é uma vagina e/ou um pênis, questão que já colocaria o Complexo de Édipo em xeque. Claro que, a partir de uns 7 anos de idade – ou mais – a percepções sexuais das crianças já são outras. E na adolescência então, quase tudo gira em torno disso.
Outro exagero teórico de Freud, a meu ver, é a questão do interesse sexual (não genital, ok!) do menino pela mãe, transformando o pai em rival e vice-versa com a menina. Isso me parece exagerado até para depois dos 7 anos de idade. Aliás, um detalhe que Freud “omitiu” ao buscar uma analogia com o Mito de Édipo, qual seja, que o Édipo já era um jovem quando retornou a Tebas e o desenrolar da profecia teve início, ou seja, a analogia freudiana - que resultou no famoso “Complexo de Édipo” - não faz sentido algum, ao atribuir as crianças, a “tragédia amorosa/sexual/conjugal” de Édipo.
Agora, uma “tragédia amorosa/sexual/conjugal” do pai para com uma filha/criança (da mãe com um filho/criança já me espantaria), já não me espantaria tanto. Mas, mesmo isso sendo bem frequente no tempo histórico de Freud, jamais entrou em sua pauta de pesquisa e análise.
Outro fato “complexante”, bem mais plausível, não poderia ser esse desejo sexual entre irmãos? Me parece que isso também não foi abordado por Freud. E quando Jung, nesse sentido, apresentou a sua teoria do Complexo de Electra, Freud simplesmente não deu bola.
Claro que o Mito de Electra se refere mais a raiva pela mãe, por ela ter assassinado o próprio marido, logo, assassinado o pai de Electra. A raiva da Electra pela mãe é tamanha que a levou a se “unir” ao irmão Orestes, que acabou sendo convencido a assassinar a própria mãe. Essa união entre os irmãos não é sexual ou conjugal, mas, uma união de cumplicidade/companheirismo, que leva a morte da própria mãe, o que, a meu ver, é muito mais grave do que apenas desejar a mãe – ou a irmã – ou no caso do Mito de Édipo, foi casar com a própria mãe sem ter ciência que era filho dela.
Entretanto, considerando a nossa condição animal, que carregamos hodiernamente – ou ela nos carrega - podemos afirmar que instintivamente, em nome da lei da autopreservação da Natureza, os animais não fazem distinção entre mãe, pai, irmã ou irmão, ou seja, nem Complexo de Édipo nem Complexo de Electra tem importância. Porém, o que segue operando é que todo e qualquer animal – inclusive as plantas – jamais tentará “cruzar” “precocemente”, pois o organismo ainda não estará desenvolvido para tal função. Então, por que isso pulsaria nas crianças?
Me parece que essa nossa condição animal, evidencia novamente, que Freud equivocou-se em delegar tanta carga sexual as crianças. Prefiro, em relação as inscrições sexuais/de gênero nas crianças, a teoria e conceituação freudiana que enfatiza as funções “passivo e ativo”. Não ativo ou passivo no sentido sexual, mas em relação a vida cotidiana da família, ou melhor, se o pai é provedor financeiro da família, certamente ele também é um referencial de “ativo” para criança. Ou o avô, ou a irmã mais velha, que ajuda no sustento e na segurança da família. E me parece que, dificilmente, uma criança vai se identificar com o “passivo”, que é mais dependente, tem pouca liberdade, pode ser visto pela criança como mais fraco… percepções repetidas que acabam se inscrevendo na psique infantil.
Apesar de ser uma temática bastante delicada, e ainda hoje com muitas resistências e julgamentos moralistas, penso que convém uma revisão do Complexo de Édipo.
Por fim, considerando o exposto até o momento, enfatizando a importância disso na organização psíquica de cada infante, ainda ouso uma última provocação reflexiva: os pais podem ser os melhores exemplos de mãe e pai, mas, podem, ao mesmo tempo, ser um desastroso referencial de marido e esposa. Não sei se a criança já percebe isso aos 7 anos de idade, mas, certamente, na adolescência isso já é notado e pode inscrever-se psiquicamente, repercutindo pelo resto da vida.
Então, prezados pais, será que vocês são um exemplo razoável ao menos (para não exigir demais), de esposa e marido?
Será que “ter” filhos e/ou filhas não deveria ser levado muito mais a sério pelos casais?
Apesar de óbvio é preciso dizer: os primeiros responsáveis pelos filhos são os pais e não o Estado. Delegar grande parte da educação dos filhos ao Estado, é um alarmante sinal de perigo. E podermos afirmar que muitas crianças estão bem melhor em berçários, pré-escolas… do que com os próprios pais, é outro grave sinal de risco. E o Estado ter que sustentar uma família, também é preocupante, afinal, lembrando da teoria do “ativo e do passivo”, nesse caso, nem o pai nem a mãe serão uma referência provedora/de “ativo”, já que são dependentes do Estado. E como isso se inscreve na psique das crianças? Com isso não estou querendo dizer que o Estado não possa/deva ajudar, mas, mesmo assim, os pais ainda são (deveriam ser) os primeiros responsáveis pelos filhos, afinal, não é a cegonha que traz um filho.
Tercio Inacio W J
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