crônica BEBER ÁGUA E SUBJETIVIDADE
BEBER ÁGUA E SUBJETIVIDADE
Perante a repetitiva confusão sobre o objeto de estudos da Psicologia - a subjetividade - quero começar com a seguinte pergunta, aos confusos: ALGUÉM PODE BEBER ÁGUA POR VOCÊ? E já aproveito para emendar uma outra provocação, qual seja, será que só “pensar” em beber água vai saciar a sede de alguém?
Mas, a intenção com a pergunta inicial é, simplesmente, apontar para a subjetividade de cada qual, esta que é única e exclusiva de cada pessoa e sobre a qual a Psicologia se debruça (ou deveria se debruçar) enquanto ciência.
Então, assim como ninguém pode beber água por você, também ninguém pode “sentir” por você, ou melhor, cada pessoa precisa fazer as próprias experiências emocionais, estas que são a condição fundante da organização (desorganização?) psíquica de cada indivíduo, inevitavelmente. Aliás, convém ressaltar, que a partir dessas experiências afetivas - sobretudo as decorrentes de relações com outras pessoas - cada sujeito se organiza de uma forma.
Certamente você já ouviu falar da diferença de personalidade, até mesmo, entre gêmeos univitelinos, ou seja, mesmo em condições idênticas, cada um acaba por se organizar de uma forma particular/exclusiva. Portanto, nem mesmo um gêmeo univitelino pode saciar a sede do outro, o que deixa evidente que ninguém pode fazer isso por você, logo, assim como você precisa saciar a tua água, assim também você – e cada pessoa – precisa fazer as próprias vivências emocionais.
Evidente que no começo da vida, a dependência e a influência dos outros é enorme, entretanto, ao longo do nosso desenvolvimento subjetivo/psíquico/afetivo essa dependência e influência dos outros deveria ir diminuído, e eis que nos deparamos com a questão da nossa autoestima, esta que também, ninguém pode saciar por você.
Aliás, cada um nasce vazio de autoestima, o que é bastante lógico, afinal, chegamos nesta dimensão como bebês, extremamente frágeis e dependentes. Lembrando que na vida intra uterina eramos completamente dependentes. O desenvolvimento do corpo está garantido naturalmente, porém, o desenvolvimento racional e afetivo não. E justamente está aí o sentido de vida, qual seja, ir integrando e progredindo no desenvolvimento orgânico, mental e emocional, ou seja, subjetivar-se na intersubjetividade.
Jung (o suíço), nesse sentido, fala em “individuação”.
Kohut, James, Winnicott...falam em desenvolvimento do “Self”.
A Psicologia Individual, patrocinada por Adler, trata do indivíduo.
Maslow, Rogers e a Psicologia Humanista se referem a essa questão como “autorrealização”;
E eu, o Jung brasileiro, denomino este cerne, em torno do qual a vida emocional gira, como “autoestima”.
Ouso dizer, por fim, que o ápice da maturidade subjetiva é quando cada um pensar, sentir e agir baseado numa ética interna, fundada numa autoestima que me faz íntegro. Por exemplo: vou declarar corretamente o Imposto de Renda porque eu quero fazer a coisa certa. Afinal, a lei/regulamentação do Imposto de Renda foi uma construção republicana e é uma arrecadação para o Brasil/todos os brasileiros e brasileiras. Bem sabemos que, facilmente, podemos justificar uma ação de sonegação, alegando que é uma exploração, que é abusivo, que já se paga muito imposto, que esse dinheiro arrecadado no IR vai para o bolso dos políticos e assim, mais uma vez, justifico uma ação a partir de outros que me convém, e não a partir da minha maturidade/ética subjetiva/interna/autoestima.
Busque-se, encare o teu vazio de autoestima, e como diz o ditado popular, pare de fazer tempestade em copo d’água.
T I Webler Jung
Comentários
Postar um comentário