crônica Necessidade + necessário + desnecessário = organização psíquica, padrão

 

Necessidade + necessário + desnecessário = organização psíquica, padrão


De imediato antecipo que a hipótese a seguir, pode ser forte para a maioria das pessoas. Mas, penso ser possível.

Então vamos a mais uma dura realidade:

Certamente, ninguém duvidará de que, ao sermos concebidos, somos completamente dependentes de um outro corpo, ou seja, cada um de nós já foi um parasita (e um ser aquático, também), e que, enquanto parasitas, dependíamos completamente do corpo que nos “hospedava” e que satisfazia as nossas necessidades primárias.

Ao sermos expulsos daquele corpo hospedeiro continuamos completamente dependentes, ainda por um bom tempo. Deixamos de ser parasitas “master” e passamos a ser parasitas em um outro grau. Felizmente, progressivamente, deixamos de ser parasitas primitivos – ao menos organicamente, pois afetivamente a questão é bem diferente – mas, continuamos dependendo de outros para satisfazer as nossas necessidades básicas. Necessidades que também vão se modificando e/ou sendo acrescentadas à lista/vida de cada um, durante o processo de crescimento e desenvolvimento pessoal.

Penso não ser exagero dizer que, até uns 18 anos, dependemos dos outros para satisfazer as nossas necessidades, afinal, o capitalismo deixou bem claro que só com dinheiro próprio é possível ser livre e independente, ao menos, no plano físico e material.

Apesar da condição humana parasitária, ser escandalosa para muitos, o que mais me deixa intrigado é a “organização psíquica, padrão”, da maioria dos seres humanos, que apenas transmutam isso para a condição de ser/sentir-se necessário para outros. Parece que a condição de parasita deixa uma marca profunda e indelével na psique de cada pessoa, ou melhor, resulta numa clivagem que demarca um caminho pelo qual será difícil não seguir e pelo qual, a maioria seguirá caminhando durante a vida inteira.

Caminho este, que levará praticamente toda humanidade, a passar da fase primitiva - na qual dependia de outros para satisfazer as necessidades básicas – para a fase do ser/sentir-se necessário, ou melhor, assim como, antes, necessitávamos de outros, queremos agora, ser necessários para outros. E o que garantirá isso, para a maioria das pessoas, serão os filhos.

Ter filhos é a forma padrão – utilizada pela maioria das pessoas – que garantirá o “sentir-se necessário”, afinal, a dependência dos filhos é certa, ao menos até os 18 anos, ou até mesmo, em muitos casos, uma vida inteira. Evidente que gerar filhos não é a única estratégia para se sentir necessário, mas, com certeza, é a mais comum e a mais acessível aos humanos. Aliás, os animais, por imperativo da natureza (instinto), procriam apenas para garantir a espécie, já os humanos, dotados de instintos, sentimentos e ideias, parece que são condicionados por mais/outros imperativos.

E assim, um “círculo vicioso” está criado e será mantido pela raça humana, qual seja, de parasitas, passamos a querer ser “necessários”. Da necessidade de outros, passamos a querer ser “necessários” para outros.

Entretanto, esse caminho, que boa parte da humanidade percorre - afinal, é o caminho padrão - levará a fase do ser “desnecessário”. Penso nem ser preciso dizer que, este desnecessário, se refere a fase da velhice.

Não estou sendo neoliberal, no sentido de considerar as pessoas, apenas na medida em que são lucrativas ao capitalismo, mas, estou tentando mapear uma organização psíquica, que direciona a vida da maioria das pessoas. Mapa que não levará a um tesouro enterrado, mas, que levará a fase em que se passa a ser desnecessário. O caminho padrão resultará nisto, inevitavelmente, uma vez que quem se organizou psiquicamente a partir da satisfação das necessidades básicas e do “ser necessário”, acabará chegando na fase do “ser desnecessário”, pois é o caminho que a organização psíquica aprendeu a trilhar.

Porém, a fase do “ser desnecessário”, pode levar/levará muitos a uma grande frustração existencial, afinal, na fase anterior, foi feito de tudo para se sentir necessário.

Fase final nada fácil para quem se organizou dessa forma.

E é possível se reorganizar psiquicamente, apenas na última fase?

Melhor seria, se cada um já começasse a se reorganizar psiquicamente na juventude, ou, ao menos, começasse isto na vida adulta.

Por ora, veja se o mapeamento psíquico-afetivo, suposto, inclui a tua orientação existencial.

Na verdade, o teu mapa afetivo pode te mostrar o caminho que você - que cada um - precisou construir na busca de "baús" cheios de bons sentimentos e de boas experiências emocionais.

Porém, o único "tesouro" que cada um precisa procurar é o da própria autoestima. Tesouro que está dentro de cada um (e não fora).



T I Webler Jung



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