crônica: IDADE INSTINTIVA + IDADE AFETIVA + IDADE RACIONAL = VOCÊ

 

IDADE INSTINTIVA + IDADE AFETIVA + IDADE RACIONAL = VOCÊ

Apesar de nos considerarmos seres racionais/inteligentes, consideramos apenas, universalmente, a nossa idade física (pior que, ainda ignoramos os nove meses de gestação na contagem da nossa idade física). Entretanto, o corpo/o físico/o orgânico, que nos assemelha as plantas e aos demais animais, se desenvolve naturalmente, sem a necessidade de precisarmos nos preocupar com esse processo de fecundação, crescimento, envelhecimento e morte. Claro que, ainda infantis na idade afetiva, temos medo do envelhecimento e, sobretudo, da morte orgânica, levando-nos as mais variadas psicoses possíveis, no intuito de nos iludirmos sobre a inevitável morte, que nos aguarda. Tão infantis afetivamente, que gastamos – nós seres inteligentes que somos - milhões em pesquisas e em medicamentos, na intenção de adiar o envelhecimento orgânico. Evidente que agradeço, diariamente, pelos avanços já feitos nessas áreas e em outras, caso contrário, considerando meus 45 anos, eu já estaria com um pé na cova, pois esta, era a longevidade humana em outras épocas.

Com isso, já sinalizo para nossa idade racional, na qual, progredimos hodiernamente. Pena que confundimos isso, o astronômico progresso teórico/científico e técnico, com o progresso da humanidade como um todo.

Aliás, eis a questão! A grande questão que a humanidade deveria se propor: adianta ir para lua, ir para Marte, termos bombas atômicas (idade racional adulta)... mas, termos pessoas morrendo de fome, termos idiotas fazendo guerra por questões de poder...? Confesso que, aqui, não sei se isso é uma questão de idade afetiva infantil, ou se a idade instintiva/animal desenvolveu-se demais em alguns presidentes. Só sei que esses idiotas não deveriam ter acesso ao que a humanidade já criou/inventou devido ao seu desenvolvimento racional, alcançado ao longo da história. Investir em arsenal bélico para defesa, já é muito questionável, pois evidencia a desconfiança nas outras nações, agora, usar um arsenal bélico para atacar outra nação, pelo motivo que for, é condenável em todas as direções, especialmente, da inteligência.

Mas, retomando o propósito do título.

Penso que já ficou evidenciado, a partir do exposto, que considero podermos estar em três fases distintas de desenvolvimento ao mesmo tempo, ou melhor, a mesma pessoa pode ter uma idade instintiva, outra emocional e outra racional, ambas em fluxo constante. Certamente, todos já viram, ou ouviram falar, de algum cientista que é altamente intelectualizado (idade racional de ancião), mas na vida afetiva não passa de uma criança, em tal medida que ainda vive com a mãe. Aqui, nem me refiro à substituição da mãe por uma esposa, ou do pai por um marido, pois não quero provocar uma comoção humanitária.

Inclusive, eis uma baita sinalização para a tua idade afetiva, ou melhor: você busca/”tem” uma esposa, ou um marido, SÓ por medo ou por insegurança afetiva, ou, por ter algo - TAMBÉM - a acrescentar/contribuir na relação conjugal? Ou, bem mais simples: você quer fazer feliz, ou apenas quer que te façam feliz? Mas, uma vez desapontado/a com as respostas, não precisa se separar imediatamente. Ser consciente e realista consigo mesmo, já é um enorme passo na maturidade/idade afetiva.

Entretanto, lembre-se: estamos sempre entre o fluxo das nossas três condições, quais sejam, a instintiva, a emocional e a racional. No mínimo, ter consciência delas. No máximo, esforçar-se para seguir amadurecendo na/nas de menos idade. Apesar de nascermos frágeis, tendo a pensar que  já nascemos adultos instintivamente, condição que empurra o desenvolvimento racional, e assim, ambas atropelam o processo de amadurecimento da idade afetiva na maioria das pessoas.

Em vez de declarar uma guerra contra os outros/um outro, faça análise, procure um psicoterapeuta e evolua nas tuas idades, que são apenas tuas e estão dentro de você, e não fora.

Seja adulto e procure ajuda e: “feliz aniversário por mais um ano de vida na idade afetiva”.

 

PARTE II

Confesso que também ando tentado a pensar que o instinto tem maior predominância na idade infantil, quando o feto/bebê, recém concebido/chegado, prioriza a lei natural da necessidade-satisfação, devido ao instinto da sobrevivência orgânica que se impõe. Nessa pulsão vital, que empurra cada indivíduo à autopreservação orgânica, a questão afetiva toma contornos angustiantes, de insegurança e de dependência, o que acaba por condicionar a organização da “base/matriz” do aparelho psíquico/afetos de cada qual.

Já na idade da adolescência - mesmo o instinto da sobrevivência orgânica seguir pulsando, aliás, este que pulsa até a falência do corpo se impor – parece que esse mesmo instinto natural, qual seja, o da sobrevivência, assume contornos da espécie, ou seja, agora não basta mais apenas a sobrevivência orgânica do indivíduo, mas pulsa também, a sobrevivência da espécie, o que por sua vez, envolve a relação sexual com um outro para que a espécie possa se reproduzir e seguir existindo. Assim, fica evidente, a potência sexual pela qual passamos na idade da adolescência, aliás, naturalmente, a melhor idade para que a procriação da espécie tenha êxito, logo, a lei do desejo-satisfação se impõe imperiosamente. Entretanto, nessa pulsão hormonal, que empurra um indivíduo à busca de outro, a questão afetiva passa a tomar outros contornos, em cada qual. Aliás, ouso dizer aqui, que o Freud equivocou-se em atribuir tanta importância à sexualidade na infância, pois, é na adolescência que o imperativo sexual se impõe, organizando significativamente o aparelho psíquico/a afetividade. Evidente que a vida instintiva segue operando também, assim como a racional já está bem latente na adolescência e anda de “mãos dadas” com a sexual.

Enfim, chegamos à vida adulta. Os instintos seguem pulsando e a sexualidade já começa a dar um espaço maior aos “afetos não dependentes dela”, afinal, a razão já consegue se impor aos instintos, inclusive ao sexual. Claro que, bem sabemos, que com a idade orgânica progredindo, o próprio corpo já não é o mesmo. Essa questão fica evidente com a menopausa no gênero feminino, ou seja, a melhor idade para procriar já passou (isso sim, é uma castração traumatizante, que Freud nem mencionou). E no gênero masculino, o sangue já não circula mais na mesma velocidade (outra castração angustiante). Assim sendo, estamos na fase de um pouco de independência das leis naturais - apesar de seguirem lá enquanto o corpo tiver vida – e podemos ir um pouco além. Claro que a maioria das pessoas, prefere continuar na rotina de sempre, ou seja, pulsando necessidade-satisfação e desejos-satisfação, no máximo é carregado pelas imaginações/ideias-satisfação.

Assim “sendo”, parece que a organização do aparelho psíquico é fortemente condicionada pelos instintos da autopreservação, de forma que a fragilidade orgânica, também se converte em fragilidade afetiva. E mesmo na idade racional, muito se resume em apenas sobreviver com segurança e conforto. Segurança que começa a ser questionada, mas, dessa vez, na idade adulta, pelo progressivo declínio orgânico. Aliás, parece que instintivamente - ou inconscientemente, segundo Freud - o processo de caminhar para morte martela em nós com mais força depois dos 50?

Estaria, o sentido da nossa vida, na organização do aparelho psíquico a partir dos afetos? Em ir além dos instintos e da razão?

Seria a função da Psicologia ajudar cada indivíduo a compreender a própria matriz afetiva? A entender como se estruturou afetivamente, como organizou o próprio aparelho psíquico? Como estão as idades instintiva, afetiva e racional?

Será que é esse o caminho para uma existência a partir da realidade-satisfação? 

 

 

Tercio Inacio Webler Jung

 

 

 

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