crônica - DA BÍBLIA AO SMARTPHONE: PRINCÍPIO DO IMAGINÁRIO/AUTOILUSÃO

 

DA BÍBLIA AO SMARTPHONE: PRINCÍPIO DO IMAGINÁRIO/AUTOILUSÃO

Costumo dizer, já há algum tempo, que tiramos a bíblia das mãos das novas gerações e lhes colocamos, nas mãos, um smartphone. Com isso, resumo a primeira parte do título e, infelizmente, também resumo a ilusória (principio do imaginário coletivo) evolução da humanidade, ou melhor, que ocorreram inúmeros progressos técnicos e na construção de ferramentas, disso não há dúvida, mas, lamentavelmente, a humanidade não passou dessa evolução apenas instrumental e mantém resignada no primitivismo ideológico/da ilusão. Em outros termos, considerando a grande contribuição (ideológica?) de Freud, o princípio da realidade segue sendo evitado.

Assim, acabo de contrapor o princípio da realidade ao princípio do imaginário,  ou ainda, contraponho o momento presente ao ilusório futuro, ou ainda, a vida monótona de cada dia ao frenesi da imaginária felicidade (aqui e agora, ou depois), ou, contraponho à bíblia e ao smartphone a vida real nossa de cada dia, existência rotineira, desafiadora, com muita carência afetiva e insegurança. Aqui, não resisto a um questionamento à educação escolar: a Escola/Universidade educa a partir de qual princípio?

Saiba, que além de você, muitos outros já me chamaram/chamam de pessimista, entretanto, se você tiver coragem para sentar sozinho por uma hora – COM O SMARTPHONE DESLIGADO - e refletir sobre sua vida, perceberás que sou mais realista do que pessimista. Verás que nem a bíblia (gerações passadas e a nossa), nem o smartphone (geração atual e futuras) garantem uma existência realista, aqui e agora, e com os outros (inclusive outros com Alcorão, Torá, Vedas, BhagavadGita...).  

Claro, sei que você “imagina” que não consegue ficar sentado sozinho, por uma hora, sem o teu smatphone, porém quero te incentivar a tal esforço, a tal ato de coragem, real e teu, aqui e agora, um contato direto com o teu princípio de realidade. Mas, também te alerto, você nunca mais será “só” conduzido pelo princípio do imaginário, pois o princípio da realidade foi despertado em você, e a partir da tua consciência disso esse princípio também passará a pulsar em você.

Reforço, o princípio do imaginário seguirá atuante em você, mas, agora, o princípio da realidade também passará a estar presente em você. Este, que te levará - depois da ampliação da consciência da vida real – a ficar um dia inteiro sem smartphone... a três dias sem, uma semana sem, e quiçá, um dia você perceberá que nem precisa de smartphone para viver. Ou será que ninguém vivia até 1995, quando os celulares começaram a se propagar.

Enfim, caro adulto, tirar a bíblia e dar um smartphone, é bastante infantil.

Aliás, veja a intrigante semelhança entre infantilidade e princípio da imaginação. Ninguém mais específico para exemplificar a potencialidade da imaginação/da ilusão do que uma criança. Será que é por isso que também chamam/imaginam os deuses – já que existem várias religiões - como pai, criador, todo poderoso...? Por favor, não estou questionando as religiões, mas, apenas o princípio do imaginário das pessoas, princípio que também nos constitui como humanos. E quem vai seguir decidindo entre o "céu com 72 virgens" ou o novo metaverso do Zuckerberg  é o próprio iludido. Falando em iludido, ainda preciso/quero perguntar: você sabia que Jesus não era cristão? Assim como Maomé não era muçulmano; nem Buda era budista. Sabia disso, caro/a iludido/da?

Para finalizar, quero desafiá-lo/la a mais um ato de coragem: convide e leve seu filho/a para passear/caminhar na rua, ir jogar bola, ir no parquinho, andar de bicicleta, MAS DEIXEM OS SMARTPHONES EM CASA, pelo bem de ambos e vivam o momento presente, vivam o princípio da realidade.

 

Tercio Inacio

 

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