ensaio: “SENSETIR” X SENTIR
“SENSETIR” X SENTIR
Há muito tempo já ando insatisfeito com as confusões teóricas criadas por se usar o mesmo termo – sentir – para referir-se aos sentimentos/emoções e as sensações que temos a partir dos nossos 5 sentidos, assuntos, ao meu ver, completamente diferentes.
Enquanto os 5 sentidos nos conectam com o mundo externo (será que nossa capacidade de “falar” também não seria um sentido, assim como o ouvir, já que nos conecta com os outros?), nos possibilitando ter sensações do que está fora de nós, os sentimentos se dão, exclusivamente, dentro de cada um, afinal, ninguém pode sentir pelo outro. Aqui preciso abrir um parêntese para dizer que o mesmo ocorre com o pensar, ou seja, ninguém pode pensar pelo outro, apesar de muitas teorias da educação ainda acharem o contrário; fecho parêntese.
Claro que as sensações – sensetir a partir dos sentidos – também são processos individuais, já que cada indivíduo tem os próprios sentidos, por meio dos quais, cada qual experiência o seu entorno. Mas a emoção – sentir internamente – é algo que ocorre, exclusivamente, dentro de cada indivíduo/no mundo privado. Calma, calma, prezadas românticas (acho que os românticos são apenas imaginação das românticas), mas, infelizmente, preciso dizer que o que você sente, ao estar com o teu príncipe encantado, é algo exclusivamente teu, logo, bem egoísta, para ficar mais claro. De forma, que você apenas deseja sentir o que você sente, dentro de você, ao estar com o dito cujo, que não passa, como já dizia Freud, de mero objeto dos próprios desejos. Inclusive, não é o príncipe encantado que te excita, mas, é você mesma que se excita ao estar com o teu objeto de desejos. O mesmo se dá nos homens.
Melhor retomar a questão inicial.
Sensetir - o mundo externo a partir dos nossos 5 sentidos - é um processo que alimenta a mente, tanto que, durante o dia, não passamos, em grande medida, de receptores de sensações, transformadas em “dados/ideias” para mente. Basta abrir os olhos, ao acordar pela manhã, e a mente passa a borbulhar, a ferver, a processar dados obsessivamente; raramente, durante o dia, nos damos conta da nossa existência real e concreta, num determinado momento e lugar. Evidente que, também, sentimos/nos emocionamos durante este mesmo dia: rimos, choramos, sentimos raiva, angústia, felicidade, paz...
Entretanto, não somos formados/educados para sentir/para as emoções, mas apenas, para pensar, que por sua vez, requer o sensetir para funcionar. Emocionalmente, nos auto-educamos da forma como somos demandados ao longo da nossa existência instintiva e ilusória. Aliás, me parece que “instintir” seria um termo apropriado para tratarmos, de forma mais clara, a nossa condição natural de autopreservação, condição/comportamento que compartilhamos com os demais animais e com as plantas.
Resumindo:
Instintir as ordens da natureza
Sensetir as sensações a partir dos 5 sentidos
Sentir as emoções/os sentimentos afetivos
Pensar é relacionar os dados/os signos
Tércio Inácio
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