Crônica - POR UM POUCO DE AFETIVIDADE NA PSICOLOGIA

 

Crônica

POR UM POUCO DE AFETIVIDADE NA PSICOLOGIA

Não é de hoje a minha “pré-ocupação”, ou melhor, que me debruço a refletir – e sentir – sobre a  nossa condição afetiva, a condição dos sentimentos do ser humano. A “ocupação” “encarneou-se” em mim de tal forma, que precisei ingressar em estudos mais sistemáticos e já validados ao longo da historia e da cultura humana, ou seja, decidi-me pela graduação em Psicologia para essa busca. Entretanto, para minha surpresa, até o momento, muito pouco se tratou, diretamente, da afetividade e das emoções do ser humano no Curso e nas teorias apresentadas até o momento. Claro que, indiretamente, esta nossa condição já apareceu em alguns textos, mas, eu pensava que a Psicologia tratava diretamente dessa nossa condição afetiva, aliás, condição que nos faz subjetivos.

Subjetivos no sentido de que cada sujeito precisa viver/experienciar/sentir na própria pele, como diz o dito popular, a sua condição afetiva, ou seja, ninguém pode sentir por você, aliás, podemos até mesmo sentir emoções diferentes perante um mesmo acontecimento/fato; basta eu dizer “Bolsonaro” e já teremos uma avalanche de sentimentos diferentes, mas a tua emoção a este respeito será só tua e dificilmente mudou e mudará.

Ainda, pensar sobre as emoções e bem diferente de senti-las, caso contrário, todos os formados em Psicologia seriam pessoas equilibradas afetivamente, de bem com a vida, altruístas, com uma autoestima bem estruturada... mas, na vida real de cada dia, NA VIDA EMOCIONAL DE CADA DIA, a “instabilidade” afetiva pulsa e desafia, inclusive, aos profissionais da área da Psicologia (muitos até tremem e temem uma agenda não cheia de atendimentos), imagina então, como a condição afetiva dirige a vida das outras pessoas, que não tem esta formação.

Entretanto, saber sobre esta nossa condição, já é um bom começo, mas não garante muito, pois a cada dia, cada um sentirá um fluxo de emoções. Aliás, me parece que é este fluxo de sentimentos que mantém cada um com os pés no chão do mundo da vida/da vida presente, enquanto que o pensar nos carrega para as nuvens/imaginar o futuro e os instintos, por sua vez, nos enraízam em nossa condição natural, de animais que querem se autopreservar/continuar a linhagem da espécie, ou seja, tem forte conexão com o passado. Sendo assim, na verdade, somos estas três condições em constante movimento e interação, porém, parece-me que, a nossa condição afetiva ainda é a que menos tem a nossa atenção, apesar de ser ela a que mais nos sustenta e desafia no dia-a-dia.

Retomando o título desta, ouso aventar a hipótese de que a Psicologia ainda está muito focada na nossa condição natural/agir, devido aos interesses voltados para a sexualidade e o comportamentalismo, assim como para a nossa condição racional/pensar, pois me parece que Freud debruçou-se intensamente sobre esta, afinal as temáticas do consciente, memória, sonho e até mesmo do inconsciente, tem relação profunda com a mente/o pensar.

Porém, de forma alguma, quero ignorar estes dois enfoques, extraordinários e revolucionários para a nossa condição humana. Quero apenas provocar um “sentir na carne” maior, no sentido de incluirmos o “afeto” em nossas vidas de “fazedores” e de “pensadores”, inclusive, em nossas vidas de estudantes e de (futuros) profissionais da Psicologia.

Não tenhamos medo de sentir, sobretudo a angústia, a tristeza, o medo, as carências, as frustrações... mas, busquemos incluir isto em nossa vida de cada dia, afinal, é o sentir que nos torna humanos, aqui e agora. Gastemos menos energia querendo repetir sempre, apenas os sentimentos “bons”, como se pudéssemos estar alegres o tempo todo e uma vida inteira.

Sejamos humanos: “penso, sinto e ajo, logo, existo aqui e agora”. 

 

   Tércio Inácio

 

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