Ensaio: ANALFABETOS AFETIVOS

 

Ensaio:

ANALFABETOS  AFETIVOS

Não é de hoje que este tema me intriga e esta definição – analfabetos afetivos - esclarece quase tudo a nosso respeito, a respeito da nossa condição humana e de humanidade.

Infelizmente já ficou evidente que a religião não é solução para nossos problemas e carências, assim como, também já está claro, que a razão não consegue dar conta de tudo e nos deixar numa condição só de gozo aqui e agora (ilusão criada racionalmente). Aliás, acaba de saltar aos olhos uma condição humana latente, que sinaliza para uma outra infraestrutura (gozo, prazer, desejo, falta, sofrimento...) que nos movimenta. Infraestrutura porque é sobre ela que o humano erige a sua estrutura racional, cultural e social.

Entretanto, lamentavelmente, a humanidade se convenceu racionalmente, de que é a razão a infraestrutura sobre a qual se deve erigir a vida. Aliás, numa outra crônica, eu já fiz uma analogia para  ilustrar esta ilusão, ou melhor, comparei este nosso equivoco com a possibilidade de estarmos num avião, a 4000 metros de altura, pisar no assoalho do avião e achar que estamos pisando em terra firme; terra firme que, inclusive, será a condição necessária para o próprio avião pousar, afinal, ele não poderá ficar no ar “a vida toda”.

O signo da “terra firme” facilmente nos remete a nossa condição orgânica, aqui e agora, com os dois pés no chão da vida real – e não no assoalho do avião – e não do mundo ilusório, dos pensamentos e do imaginário. Entretanto, a intenção com esta reflexão não é fomentar juízos de valor sobre, mas, mesmo sabendo do intermitente movimento e interação entre razão e afetividade, podermos ficar atentos, ao que em nossas vidas hodiernas, de fato é a infraestrutura sobre a qual erigimos a nossa existência diária/o nosso movimento de cada dia.

 Não será difícil de verificar que a humanidade progrediu “astronomicamente” como animais racionais, a ponto de se “encantar” por ela e querer transformá-la em infraestrutura que tudo sustenta. Digo “e querer” porque também, não é nada difícil de verificar que progredimos tecnicamente e em conforto devido a carências e medos. De forma que iludidos com a razão, seguimos carentes e infantis, inclusive na vida social, ou seja, ainda somos, em grande medida, “analfabetos afetivos” em nossas vidas pessoais, o que repercute, inevitavelmente, na vida social e racional. Isto mesmo, não é possível uma sociedade equilibrada se as pessoas que a formam, não são equilibradas afetivamente. E isto não é individualismo, pelo contrário, somente uma pessoa “alfabetizada afetivamente”, conseguirá viver e conviver maduramente em sociedade, sem precisar usar os outros para se sentir bem (o que é uma enorme ilusão, achar que a minha vida/paz afetiva está fora de mim).

Então, alfabetização afetiva das pessoas já.

Urge trabalharmos pela nossa infraestrutura afetiva, o resto será conseqüência. 

 

   Tércio Inácio

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Psicologia e neutralidade

crônica - O TRIPÉ DA PSICANÁLISE X A PRÁTICA EM PSICOTERAPIA